AH, A COMUNICAÇÃO PESSOAL!
Conheci um professor que dava aulas há 15 anos. Sim, ele tinha experiência, aprendeu muito sobre dar aulas. Mas também solidificou vários erros em sua comunicação. Normal, “ninguém é perfeito.. pra isso existem os vereadores, Kkkk”. Seguro que era de sua capacidade, um dia viu surgir na escola um novo professor de sua disciplina. O ano passou e o rendimento dos alunos do outro foi superior ao dos seus. Desconfiado, começou a prestar atenção e descobriu que tinha fama de "falar para dentro, para si mesmo”; de andar de lá pra cá durante a aula (os alunos ficavam tontos); de falar a expressão “perfeito?” ao final das frases; de fazer sempre os mesmos gestos; de começar uma frase aqui e terminar lá na China séculos depois; e de repetir piadinhas sem graça, como “ninguém é perfeito... pra isso existem os vereadores”. Sim, ELE era “um figuraço”. Mas, e a matéria?
Conheci uma cantora de MPB que cantava, apenas. As pessoas a elogiavam, até porque sua voz era lindíssima. Não havia problema no repertório. E ela entendia a letra das canções. Mas o que acontecia, que não “decolava”? Ela não tocava as pessoas. Cantava para si mesma. E sentia, lá no íntimo, que se se envolvesse com a música - emoção e corpo - iria perder o domínio da musculatura interna, a afinação ou o andamento. Será que “não tinha corpo” para expressar seu sentimento? Ela se escondia atrás da voz, da roupa, do microfone... Não era generosa com seu público.
Conheci um repórter de rádio. Tinha ótima memória e dominava o assunto. Mas falava tão rápido que parte do que dizia ninguém entendia. Tinha a sensação de que não podia deixar lacunas. De que cada pausa era um enooorme tempo de silêncio. Por isso, emendava uma frase na outra. E os ouvintes não tinham tempo para escutar, sentir e elaborar o que ele dizia.
Com certeza tinham eles tem diversas qualidades. Porém, ficavam submersas.
Caso desses foi o de um político que sorria falso. Pior que ele era honesto e sincero. As qualidades de seu discurso eram quase invalidadas por aquele sorriso. Não resisti e pedi para conhecê-lo pessoalmente. Ele aceitou, pois era pessoa de grande humildade. E, sério, ele era muito melhor. Melhor também ao vivo e longe dos palanques. Disse que haviam lhe ensinado a "interpretar" e fazia parte disso o "sorrir sempre". “Mas você é de sorrir?” – perguntei. Não era. Sugeri que fosse ele mesmo, sério, e que procurasse motivos em seu discurso que o fizessem sorrir. Semanas depois assisti a vídeos dele: e não é que estava até sorrindo de vez em quando? E como era belo aquele sorriso espontâneo que acontecia de repente!
Conheci um casal de atores que representava em vídeo. Eram tecnicamente bons, tinham recursos. Mas não dava pra acreditar na maioria das coisas que expressavam. Tentavam fazer comerciais, mas não passavam em testes. Lhes faltava verdade, lhes faltava energia... Haviam aprendido que, “em vídeo, é simples: apenas fazer tudo menor”. Bom se fosse. Mais tarde percebi que, no teatro, sua verdade também era “da boca para fora”. E, no vídeo, isso ficava muito evidente. O vídeo não perdoa a falta de verdade.
Após anos trabalhando com atores, fui convidado a ministrar interpretação para vídeo publicitário em escolas de manequim e modelo. Em uma, grande, naquelas aulas para 90 alunos - conheci vários tímidos, muitos introvertidos e várias pessoas com dificuldades de comunicação - não apenas via câmera. Os “caça-talentos” haviam lhes falado que, além de propiciar uma nova carreira, o curso iria ajudar em sua desenvoltura. E, realmente, constatei que o “conceito” de manequim (postura, elegância, boas maneiras, etc) ajuda a elevar a auto-estima. Depois, tive algumas turmas pequenas e específicas. Entendi que a prática das técnicas lhes havia tocado em outros pontos, como auto-estima, comunicação pessoal, desenvolvimento da emoção e outras cositas. Ato reflexo, intui o que pode fazer pelas pessoas um curso que lhes dê, além das técnicas, a possibilidade de melhorar sua comunicação presencial e, seguido, transportar esta comunicação ao vídeo. O vídeo, em geral, é uma mídia em que “o outro” - a quem você se dirige em última instância - não está presente fisicamente. Nem em tempo real. Entre você e ele existem as barreiras específicas desta mídia, que devem ser superadas sob pena de prejudicar muito a sua comunicação.
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