FESTIVAL DE CURITIBA 2024 - UMA PÁLIDA IMAGEM DE PARINTINS
UMA PÁLIDA IMAGEM DE PARINTINS
Primeiro, se vier do centro, saia 19h30. O engarrafamento está enorme até certo trecho. Ontem, muita gente chegando atrasada por isso.
Segundo: ontem o espetáculo durou pouco mais de duas horas, e não noventa minutos. Então, prepare-se para isso, até porque você não vai querer sair antes.
O título desta matéria é exato. E com ele quero dizer que, mesmo sendo um grande espetáculo, não teria como chegar perto do que acontece em Parintins. Porque é um evento demonstrativo. Porque está sendo “fechado” em um teatro. Porque não teria como trazer senão um grupo pequeno, nem tampouco a riqueza visual do conjunto dos adereços e figurinos, quiçá algum daqueles carros alegóricos maravilhosos.
E o mais importante: não teria como trazer Parintins. Porque todo mundo sabe que estar lá, imerso naquele clima, cercado da ilha, da floresta, do povo, é fato emocional indescritível.
Ontem, a presença no público de muita gente do norte e nordeste do Brasil ajudou a animar, porque muitos vieram nas cores azul ou vermelho e muita gente sabia na ponta da língua as letras tanto de Garantido quanto de Caprichoso.
A gente aqui do sul, tão miscigenação com europeus, tão distante da atmosfera dos povos originários, a gente que sente o índio quase como uma ficção, se sente um pouco deslocado na festa, uma espécie de visitante. E aí está a importância dessa pequena mostra de Parintins ter vindo aqui: ela nos faz presentes a força, a altivez, a beleza em todos seus quesitos, de uma parte de nós, Brasil, que desconhecemos. Um Brasil que deveria ser desde sempre matéria específica em todas as salas de aula. E muito além delas.
Usei o termo “pálida” e espero ter sido entendido. Quero dizer que o grupo que nos visita nada tem de pálido, são destaques do Festival de Parintins e trouxeram muita, muita vitalidade, muita arte!
E figurinos e adereços lindos! Vieram as personagens centrais da festa, representadas em azul e preto e em vermelho e branco. Os atores/dançarinos os personificam de tal forma que a impressão é a de serem, realmente, figuras míticas descidas à terra.
E que bois!! Os bois são um show à parte.
Todo mundo dançando ao redor da banda e dos “puxadores” (levantadores de toadas), as vozes de Garantido e de Caprichoso.
A LITURGIA
Desde o início, os integrantes de Garantido e Gracioso, através de seus “mestres de cerimônia”, tentam trazer o público para seu lado, na disputa de quem é o melhor boi. Segue-se a liturgia semelhante à do Festival: os elencos se alternam ao fazer o esquenta musical e, seguido apresentar cada um dos personagens centrais. Claro, aqui de forma bastante reduzida em relação ao original, mas com muita intensidade.
Particularmente divertida é a improvisação dos mestres de cerimônia ao provocar o lado oposto, tentando convencer o público que são, sim, os melhores, os vencedores.
Vale tudo, mas com festa.
E essa festa é do espírito coletivo.
Não pensem que conseguirão ficar sentados. Todo mundo levanta, porque é uma festa. É é uma festa da torcida, também! Penso que a falta de uma pinguinha pra soltar corpo e alma, tão integrante do show ao ar livre, não será sentida, rs.
O impacto final é grande! A sensação física, real, de respeito à natureza. De compromisso com a natureza, fora de nós/em nós. Não de forma generalizada, mas pontual: o boi passa pela plateia e as pessoas o querem tocar, fazem carinho. Cada personagem - Sinhazinha da fazenda, Cunhã-poranga, Porta-estandarte, Pagé - ganha a dimensão de um pop star.
Se seu espírito estiver aberto, a festa de hoje lhe será tocante, novamente!
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