UM FESTIVAL PARA TODAS AS TRIBOS
Girou a roda do tempo e estamos com o novo Festival de Curitiba. O encontro de corpo presente, de emoção, de troca, nunca esteve tão necessário. Portanto, reúnam os amigos e vão desfrutar do mistério, compartilhar a magia e refletir a vida.
Este 31º festival reflete ainda a produção de 2022, tempos
escuros para a cultura: produções enxutas, propostas aguerridas, exposição de temas sociais e
existenciais. Ampliar as vozes dissonantes. E, sobretudo, inclusão.
Inclusão inerente ao teatro: em carne viva, com cheiro, com
sabor, com textura. Me vem a imagem do naturalista Antoine, ali nos fins do
século XIX, convidando o público a presenciar um espetáculo no qual carne de
verdade era usada em cena. Despertar os sentidos e despertar para a realidade
social é o mote da vez.
Com um pouco menos dos “grandes nomes” conhecidos da mídia, Curitiba será tomada por muitos grupos e pessoas com propostas que, há algumas décadas, eram chamadas de “alternativas”, mas que passaram a ser a via principal do nosso teatro. Mas não faltam, também, espetáculos mais convencionais. Tem arte pra todos os gostos.
A Mostra principal, em homenagem à grande produtora Lucia Camargo,
se pauta mais pela inclusão e por dar voz a quem precisa que pela ousadia
estética, se compararmos a outras edições. Tenho saudades daqueles espetáculos
que mexiam com a relação palco-plateia. Aquele, com 7 horas de duração, que se
movimentava pelo espaço da FIEP; e outro, no Barigui em que um ator interpretava
Prometeu, pendurado lá no alto de uma escada magirus; e do Teatro da Vertigem com seus espetáculos em que personagens e
público conviviam no mesmo espaço; e de tantas provocações estéticas que já passaram
pelo festival. Mas vamos celebrar a
proposta atual, totalmente pertinente.
O formato do Fringe vem se alterando, nos últimos anos, para
melhor. O nome Fringe vem do Festival de Edimburgo: havia a mostra principal e,
à volta dela, vários grupos viajavam ao festival e programavam apresentações às
próprias custas. Formavam, por assim dizer, uma “franja”. Durante muitos anos,
nosso Festival de Curitiba era assim, mostra principal e discussões, eventos,
ligados a ela, e um Fringe formado por produções nacionais e internacionais
que, amparadas tecnicamente pelo festival, vinham às suas próprias custas e
recolhiam sua própria bilheteria. E era comum o Fringe trazer muitos espetáculos
mais saborosos – no meu parecer – que a mostra principal. Nele conhecemos Por Elise, do Grupo Espanca, revelando
Grace Passô. Hysteria. Nele veio esse belo ator Marcelo Francisco, com A Dama da Noite (que retorna , não peca,
do dia 30 ao dia 02, no Teatro Ebanx Regina Vogue). E muitos grupos e trabalhos
curitibanos reconhecidíssimos nacional e internacionalmente, como as companhias
Ave Lola, Antropofocus, Cia dos Palhaços, Cia Stavis-Damaceno ... só para citar
alguns. Sim, o teatro paranaense é muito reconhecido fora daqui!
A administração do Fringe naquele formato era bastante
trabalhosa, demandava grande equipe de produção. Mas essa tutela revelou também
problemas: muitas vezes espetáculos que vinham de longe não logravam grande
divulgação, também devido a horários como 12h, 18 horas, meia noite... e praticamente tinham plateia vazia. Ossos do
ofício.
Também o Festival de Teatro de Curitiba virou Festival de Curitiba, incorporado alguns shows musicais e espetáculos de dança. Fez sentido, porque aquela discussão muito antiga de “isso é teatro? Isso não é teatro?” foi perdendo a importância à medida em que a cena teatral foi se compondo com outras artes (literatura, dança, artes visuais, cinema...).
Para potencializar e fazer conhecer a diversidade da arte teatral ao espectador, nos últimos anos o Festival passou a apostar mais em “parcerias”. Resultaram delas eventos como as mostras baiana e pernambucana, por exemplo. E outro acerto: parcerias com os espaços e produtores locais. Assim, um espaço local ligado ao estudo da comédia, como o Antropofocus, começou a receber e produzir seus próprios convidados; a Cia dos Palhaços passou a fazer a Mostra Seu Nariz. Também os cursos e palestras, leituras e discussões, antes tutela e administração do Festival, foram terceirizados a parceiros. Fica tudo mais fácil para o espectador que já tem noção do que prefere assistir.
A fórmula tem dado ótimo resultado.
Na programação impressa, procure: Fringe Rua, Fringe Mostras e Fringe Circuito independente.
Na programação online, está tudo na aba Fringe.
E tem a Mostra de Solos, as Interlocuções, o MishMash, o Guritiba e o Risorama. Tem muita, muita, muita coisa. O cardápio está à sua disposição no www.festivaldecuritiba.com.br
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